Procura-se...

 

Toda biografia é ficcional. A muitos, não a todos, não interessa de fato quem somos. Pergunto-me se o cyberespaço é o lugar mesmo dessas coisas. O lugar que é o não-lugar por excelência.

Uma reflexão que só se repete me indica que sem um propósito toda ação é vaga, é onda que esfumaça e volta. Sem um foco, tanto faz o peso do tacape. Uma boa mira sem um alvo é tão inútil como uma serra elétrica sem gume.

Ando escrevendo nas paredes, e no mundo tudo é parede. Sugiro o "Livro de Cabeceira" do Greenway. Mal não faz.

Descobri ultimamente que o que é epocal passa, e que o mundo é instantâneo como um achocolatado em pó. Escrevi na parede do quarto a proposta seguinte: "O vir-a-ser é superior ao sido. Mas somente o SENDO das coisas pode ser Absoluto. O infinito é Agora. O presente é a presença de um presente, não virtual, atual e indexatória presença."

Depois eu disse que "Tudo é epocal, menos a Alma. A alma é fora do tempo. Deus está lá, por acaso."

E, por acaso, descobri que o mundo gira conforme a regra, e que as regras são necessariamente individuais, e que é olho que formata o mundo, sendo, com Schopenhauer - com quem não sonho mais - o mundo a minha representação (nada sei quanto à referida Vontade e Sofrimento, eticétera.).

Daí escrevi sobre o pórtico: "O acaso é superior a qualquer regra."

Depois me detive na maiusculice das coisas e decidi não duplicar o que já é muito utilizando Maiúsculas. Excetuei coisas como "Absoluto", "Infinito", "Agora", "Presente", pois que há nestes e noutros termos um aspecto mais sutil que deve ser sugerido pelo uso de um nome Próprio, como se fossem coisas-objetos, sendo Objetos sem serem coisas. "Coisas", por exemplo, não pode ser próprio, nem maiúsculo.

Na diversidade destas e de outras considerações, atraco-me comigo mesmo, ora no espelho - anti-fotografia positiva reluminada em sais velhos de prata -, ora nos reflexos espelhados que ações, sentimentos e talvez até pensamentos provocam ao serem emitidos e quando voltam, como bumerangues.

Alguém certamente disse: "Oh, como é a vida, se até a companhia de uma borboleta é a mais pura e singela expressão da Lei do Karma."

O acaso, por acaso, sabe de si. Planejar o ser é viver numa supra-estrutura desmagificada que tudo estrutura, tudo arquetipa, pensa que enxerga tudo mas só vê. Há bolsas de realidade, fabricadas pois somos fábricas de realidades. O homem é, de certo modo específico, o conjunto de suas crenças.

Só isso pode ser. Mas há outra frase que adotei, como se fosse um louco determinado: "Lembre-se: uma coisa nunca exclui a outra."

O que vou fazer com tudo isso?

Para isso há outra frase, sobre o arquivo, em grafite e giz de cera: "COMO continuar não importa. O importante é CONTINUAR."